Com previsão de estar disponível a partir de novembro, o sistema de pagamento instantâneo conhecido como PIX prevê aprimorar a maneira que são feitas as transferências de valores no Brasil. Conforme o Banco Central, que criou a iniciativa, além de aumentar a velocidade em que transferências ou pagamentos são feitos e recebidos, a ferramenta tem o potencial de alavancar a competitividade e a eficiência do mercado, baixar o custo e promover a inclusão financeira.
Em um primeiro momento, a utilização do PIX estará vinculada à internet e a perspectiva é que seu maior uso seja através de smartphones. A operação poderá ser feita por meio de digitação manual (utilizando os dados bancários do recebedor, como já ocorre hoje em uma transferência TED ou DOC), por QR Code ou através da chamada chave PIX, que é estipulada a partir de um único dado como o número de celular, CPF/ CNPJ ou um e-mail. Nas operações tradicionais feitas hoje via DOC e TED, é necessário compartilhar vários dados como instituição bancária, nome, agência, conta e CPF/CNPJ.
Conforme o Banco Central, a aplicação do sistema de pagamentos instantâneos não objetiva lucro, permitindo a cobrança de tarifas com vistas, apenas, ao ressarcimento dos custos necessários para a operação do modelo. Nesse formato, a expectativa é de que a taxa fique em torno de R$ 0,01 (um centavo) para cada 10 mensagens de pagamentos instantâneos liquidadas. O serviço enviará e receberá recursos 24 horas por dia, em todos os dias do ano, inclusive feriados e finais de semanas.
O CEO e cofundador da PagBrasil, fintech que atua com processamento de pagamentos para e-commerce, Ralf Germer, ressalta que o PIX significará agilidade para as transações. Ele cita como exemplo um vendedor de picolé que coloca um QR Code em seu carrinho e a pessoa que quiser comprar o produto simplesmente usa seu celular para ler o código e em segundos o comerciante recebe a confirmação no seu telefone do recebimento do dinheiro. “Não é preciso maquininha, dinheiro ou troco, é muito fácil”, enfatiza.
Germer reforça que todo o sistema está pensado para o uso do celular e lembra que mais de 90% das famílias brasileiras possuem pelo menos um smartphone. Para o sistema financeiro como um todo, o executivo salienta que o PIX representa um ganho tecnológico relevante, que pode resultar futuramente em outros produtos. O CEO da PagBrasil informa que mais de 50 nações possuem sistemas similares ao PIX, sendo os mais conhecidos os chineses Alipay e WeChat Pay.
O diretor executivo da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Claudio Guimarães Junior, acrescenta que o mundo vem evoluindo nos últimos anos em termos de digitalização do mercado financeiro, mas o Brasil ficou um pouco para trás. Ele recorda que, assim como a China, países como Coreia do Sul, Cingapura e Austrália já possuem modelos de pagamentos instantâneos mais avançados. O dirigente ressalta que ferramentas como essa diminuem a importância da presença física das agências bancárias. “E isso reduz custos”, enfatiza Guimarães Junior. Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz que é favorável a medidas que diminuam a necessidade de circulação de dinheiro em espécie (como o PIX), que somente de custo de logística totalizam cerca de R$ 10 bilhões ao ano em gastos.
Bancos começam a receber manifestações de interesse de futuros usuários
Apesar do funcionamento do PIX somente iniciar em novembro, algumas instituições financeiras, como o Banrisul, já estão levantando possíveis consumidores do serviço. O banco gaúcho disponibilizou recentemente, pelo aplicativo Banrisul Digital, o registro de interesse no PIX, onde o cliente poderá informar as chaves de sua preferência (CPF, CNPJ, número de celular ou endereço de e-mail) para utilizar a ferramenta.
A partir de 5 de outubro, o correntista pode confirmar estes dados no cadastro oficial de Chaves PIX no Diretório de Identificadores de Contas Transacionais (DICT). No app também estará disponível conteúdo informativo sobre o pagamento instantâneo brasileiro. “É uma solução que tem o potencial de mudar o mercado”, destaca o diretor de Finanças e RI do Banrisul, Marcus Staffen. O dirigente detalha que, além de transferências, o PIX poderá ser aproveitado para o pagamento de diversos débitos como, por exemplo, contas de luz.
Staffen diz que houve uma boa adesão ao registro de interesse quanto ao produto até agora, porém ele prefere não revelar o número de cadastros feitos até o momento. O diretor do Banrisul comenta que a tecnologia que será usada é “amigável” e a tendência é que tenha uma boa aceitação por parte da população.
Já o Banco do Brasil informa que iniciou a divulgação do PIX aos seus clientes por meio dos seus canais de comunicação e em redes sociais. A abordagem tem como objetivo que os correntistas já entendam o que é a solução quando iniciado o cadastramento, em 5 de outubro. Na comunicação, o usuário é incentivado a atualizar o seu cadastro, tanto pelo app quanto pelo internet banking. Por sua vez, o Bradesco, em nota, afirma que o banco está preparado para integrar o PIX dentro do prazo estabelecido pelo Banco Central. O Bradesco entende que a solução será mais um meio de pagamento relevante para o sistema financeiro, disponibilizando aos clientes, pessoas físicas e jurídicas, uma opção de transação ágil e segura nos principais canais do banco.
No dia 3 de novembro, o PIX estará acessível de forma restrita, com limitação de horários e usuários, possibilitando a realização de pagamentos instantâneos. Já no dia 16 de novembro, o sistema entra no ar de forma oficial. O calendário de implementação do PIX continua com o desenvolvimento de soluções em outras plataformas de atendimento, direcionadas a empresas e ao setor do varejo. Até o primeiro trimestre de 2021, o Banco Central pretende lançar um serviço chamado Saque PIX, onde os usuários poderão retirar dinheiro nos estabelecimentos comerciais aderentes à ferramenta.
Pandemia intensifica movimentações eletrônicas
Durante a crise do coronavírus, com a necessidade do isolamento social, muitos consumidores de todas as classes foram “obrigados” a usarem novos canais (eletrônicos) para consumirem produtos e serviços. Segundo o head da Minsait Payments no Brasil, Ricardo Granados, isso significou a quebra de um grande paradigma do setor financeiro que ainda tem como principal meio transacional o dinheiro (segundo estudos do Banco Central, mais de 60% do total de transações ocorrem em dinheiro).
O executivo adianta que se espera uma maior adesão dos consumidores a essa nova modalidade de pagamento, principalmente, nos grandes centros, onde existe melhor infraestrutura de comunicação. Também se tem a expectativa da entrada de novos “atores” nesse cenário, como as empresas provedoras de serviços de energia, água e gás, o que motivará cada vez mais a adesão de consumidores, sejam pessoas físicas ou jurídicas.
Para Granados, a padronização e democratização dos meios de pagamento promovida pelo Banco Central fará com que todas as instituições financeiras possam operar em pé de igualdade, podendo além de reduzir custos operacionais existentes, atrair clientes de acordo com produtos e serviços mais adequados as suas necessidades.
Soluções semelhantes ao PIX não chegam a ser algo inédito no País, mas a perspectiva é que a proposta difunda mais essa forma de fazer uma movimentação financeira. O aplicativo de pagamentos PicPay, com mais de 30 milhões de usuários, por exemplo, já oferece a transferência instantânea e o uso do QR Code. O vice-presidente do PicPay, Anderson Chamon, comenta que o PIX, além de proporcionar o desenvolvimento do mercado e maior adesão aos meios de pagamento digitais, vai tornar as transações financeiras muito mais fáceis, dinâmicas e ágeis. Chamon adianta que, a partir de 16 de novembro, dentro o aplicativo do PicPay, haverá um destaque para que o usuário realize pagamentos usando o PIX, que será mais uma forma de pagamento, assim como o crédito e débito.
Informações sobre o PIX
– O que é o PIX?
O PIX é a solução de pagamento instantâneo, criada e gerida pelo Banco Central do Brasil (BC), que proporciona a realização de transferências e de pagamentos. O PIX é concluído em poucos segundos, inclusive em relação à disponibilização dos recursos para o recebedor.
-Quem pode fazer o PIX?Qualquer pessoa física ou jurídica que possua uma conta transacional (conta de depósito à vista, popularmente conhecida como conta corrente, conta de depósito de poupança ou conta de pagamento pré-paga) em um prestador de serviço de pagamento (instituições financeiras ou de pagamento – como algumas fintechs) participante do PIX.
– É preciso ter uma conta corrente em um banco para ter o PIX?Não necessariamente. Você precisará possuir uma conta em um prestador de serviços de pagamento participante do PIX. Essa conta pode ser uma conta corrente, uma conta de poupança ou uma conta de pagamento pré-paga. O PIX não está restrito a bancos.
– Como eu faço um PIX?
Para realizar um pagamento via PIX, você pode:
•ler um QR Code com a câmera do seu smartphone, na opção de fazer um PIX no aplicativo da sua instituição financeira ou de pagamento; ou
•informar uma chave PIX, que pode ser CPF/CNPJ, e-mail ou telefone celular do recebedor, por meio da opção disponibilizada por sua instituição financeira ou de pagamento no aplicativo instalado em seu smartphone.
Embora não seja o padrão esperado, por sua pouca praticidade e demora, há alternativamente a opção de digitar manualmente os dados da conta transacional do usuário recebedor, como ocorre hoje para iniciar uma TED ou DOC.
– Só posso fazer um PIX se tiver um aparelho celular?
Não necessariamente. O PIX poderá ser disponibilizado pelas instituições participantes em diversos canais de acesso. O telefone celular, desde que seja um smartphone, é um deles. Acredita-se que o celular será o meio de acesso mais utilizado. Outros possíveis canais, que podem ser oferecidos a critério de cada entidade, são: internet banking e presencialmente nas agências, nos caixas eletrônicos ou nos correspondentes bancários, como lotéricas, por exemplo.
– Se eu não tiver acesso à internet, é possível fazer um PIX?
Em um primeiro momento, você somente poderá fazer um PIX se estiver conectado à internet. Há, no entanto, previsão de disponibilização de uma forma de pagamento off-line para 2021.
Fonte: Jornal do Comércio